O Comentário de Arnaldo Jabor - Arnaldo Jabor
Summary: Comentários do cineasta e jornalista sobre política, economia, cultura e comportamento.
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Eles buscavam um salvador da pátria. E encontraram. O problema é que ele é uma porta aberta para a revivência dos militares na vida política. Vai caber a eles uma grande responsabilidade sobre o país. Dar poder político a quem controla as armas é um passo delicado. É preciso estimular o bom senso dos chefes militares.
Para os brasileiros como o "Zé Marmita", a democracia nunca influenciou a vida diretamente. Ele está com ódio e vai votar em quem parecer mais feroz e autoritário.
As históricas não dependem necessariamente do desejo dos atores políticos. Muitas vezes, elas vêm por um acúmulo de fatos e informações que parecem vir sozinhos. Exemplos disso foram a ditadura militar e a redemocratização. Talvez estejamos vivendo uma mudança histórica nos dias de hoje.
O RJ tem um povo considerado inteligente, esperto, que sabe reclamar da vida e grita no Carnaval e nos jogos de futebol, mas agora calou. Sem oposição na sociedade civil, os cariocas estão diante de uma catástrofe silenciada
Depois disso, será difícil a regeneração. A população vota contra o estado das coisas, mas nunca a favor de nada. Era de se imaginar que ao longo dos anos democráticos haveria maturidade maior entre eleitores e militantes, mas existe uma mutação histórica em curso.
Série “A Segunda Guerra Mundial a cores” mostra como um homem louco como Hitler conseguiu em cinco anos matar 50 milhões de pessoas, destruindo até o próprio país. Fascismo não é uma nuvem abstrata que nos contamina. Ele está dentro do corpo.
Autoridades estão usando termos mais leves para episódios graves. Dias Toffoli, por exemplo, mudou o sentido ao dizer que o golpe de 1964 não foi um golpe ou uma revolução, mas simplesmente um movimento. A situação está tão perigosa que pode levar nossas situações à deriva, boiando num mar de loucura.
O país assistiu ao fenômeno durante as apurações das eleições de anteontem. O momento evoca o poema 'E agora, José?', de Carlos Drummond de Andrade.
Eleições deste ano foram diferentes das velhas disputas políticas, em que os candidatos, bem ou mal, tinham programas claros. Redes sociais hoje decidem mais que informações checadas. Isso cria um universo paralelo de eleitores fantasmas. Como saber se é realidade ou delírio?
A palavra que em grego quer dizer 'governo do povo' tem sido usada com significado diferente, e pode vir a ser porta de entrada para o totalitarismo. No mundo estamos vendo sórdidos ditadores 'democraticamente eleitos'.
Tudo que esperávamos não rolou. Isso gera também decepção. A desconsideração com a política nos leva à busca ao sedentarismo e alimenta a ideia de vingança. Por isso, vota-se com rancor. E há também o medo. Chegamos ao desinteresse e ao cinismo.
O tráfico tem na maconha uma fonte imensa de renda. Se ela for legalizada, economizaríamos milhões e pararíamos de financiar o tráfico de armas.
Falamos do Brasil como se ele fosse uma realidade com vontade própria e esquecemos que a nossa responsabilidade e vontade moldaram a zorra que está diante de nós. A reforma da Previdência poderia ter acontecido, mas ficamos reduzidos a somente atacar o Temer, como se ele fosse o demônio da pátria.
Trump, por exemplo, protagonizou uma série de denúncias de abuso sexual. O careta reacionário parte para alguma forma de perversão sempre, porque não consegue respeitar o outro parceiro. Porque o outro é sempre visto como desprezível objeto de uso.
Nosso atraso nacional só diminui com aceitação da uma complexidade política e econômica que nos leve a uma reorganização das instituições. É muito complicado e delicado governar o país.